I’m Sorry, But we…

Arthur foi desde menino uma pessoa muito tímida, fato esse que atrapalhava, sem diminuir as chances que tinha de viver sempre em volta de alguns amigos e de varias garotas do colégio. Era um garoto bonito, de uma beleza atraente para as mulheres. De Manhã, pegava o ônibus para a escola, e no coletivo, encontrava com algumas coleguinhas e amigos, com quem colocava as notícias em dia e não raro combinavam algum encontro para depois das aulas, então completava o dia com a turma ou com uma garota de sua preferência.

Amanda, uma bela morena de 16 anos, foi com quem Arthur teve mais proximidade no tempo de escola. As aventuras com amigos também eram constantes. O que mais ele gostava de fazer era amossegar caminhões. E foi assim a vida do rapaz durante o ensino fundamental e parte do ensino médio, até que uma série de acontecimentos promoveram uma revolução na sua vida.

Numa manha, ao escovar os dentes, Arthur notou uma pequena alteração no rosto. Sentiu uma pequena dificuldade para movimentar os músculos da face, não sentindo tanta facilidade para abrir a boca, e para sorrir. Mas não deu bola para aquilo, atribuindo ser algum incômodo causado durante à noite, pelo fato de ter o costume de dormir de bruços, encostando o rosto no colchão.

De manhã no colégio, ao conversar com Gina, sua colega de turma, esta lhe cortou a conversa por um instante para observar alguma coisa no rosto de Arthur, mais exatamente na testa, onde ele tocou com a mão e observou uma espécie de dormência e também um pouco de preponderância. Mais tarde, em casa, a Mãe D. Isis, teve a mesma visão, coisa que preocupou um pouco o rapaz naquele dia, e mais ainda nos outros dias, quando o espelho passou a mostrar mudanças agora significativas em suas feições.

Sua testa cresceu, formando uma grande preponderância curvilínea dando-lhe um aspecto desagradável e retirando-lhe os pequenos franzidos que antes lhe emprestavam um charme nos momentos de preocupação. Os olhos, antes muito belos, ficaram menores e com aspecto nada agradável, sem contar que mais rígidos, sem a mobilidade que fazia de Arthur um galanteador com os órgãos da visão, quando ele queria chamar a atenção da mulherada.

O nariz também teve seu tamanho diminuído. A boca ganhou uma tortuosidade desagradável. Mas o que mais deformou seu rosto foi o queixo, que cresceu muito, tomando uma forma desproporcional e com preponderância para frente, ao ponto de fazer-lhe a exposição dos dentes inferiores. Além disso, formou-se uma papada inferior ao maxilar, o que contribui para dar-lhe o típico aspecto das Cegonhas.

Ao cabo de dois meses Arthur estava com o rosto transtornado, com um aspecto que somente uma palavra pode traduzir sua aparência: Feio; ao ponto de causar espanto às pessoas mais próximas dele e um constrangimento que deixou sua autoestima nos subterrâneos. Arthur era tímido e vaidoso. Vocês podem imaginar como fica a vida de uma pessoa com um problema desse? Claro que sim. Mas pensem numa pessoa vaidosa que perdeu a beleza, num jovem… Em qualquer pessoa. Ou melhor, sinta-se no lugar de Arthur.

Em seus momentos de solidão, Arthur começou a lembrar de sua vida pregressa, que se não fora um conto de fadas, não fora também das piores. E lembrou-se dos tempos de criança, das brincadeiras de menino, sempre em correria com os amiguinhos da rua onde morava. Gostava de correr pelas ruas próximas principalmente à noite, a brincar de pira ou de esconde-esconde.

D. Isis foi a única pessoa que Arthur procurou para conversar e pedir carinho. Nas infindáveis horas das tardes, era com ela que trocava algumas palavras e pedia informações acerca dos exames que havia feito em companhia dela, quando os dois passaram dias a procura de tratamento.

Ao consultarem um especialista, este explicou que se tratava de uma doença rara, da qual pouco se sabia, e se tinha cura. Como sua cidade não dispunha de recursos para o problema, o mais prudente foi procurar um tratamento em Huston, nos Estados Unidos.

Feitos os exames, coube à mãe procurar a ajuda de amigos para conseguir ajuda, o que foi conseguido graças à boa reputação de D. Isis perante sua família, que não mediu esforços para angariar um bom dinheiros para as passagens e estadia dos dois. Ao saber do problema, um tio de Arthur, Irmão de D. Isis, empresário de sucesso foi mais longe. Realizou uma pesquisa e teve contato com especialistas em Huston que se prontificaram em receber Arthur para o tratamento do Rapaz, e estavam a sua espera.

— Como posso encarar uma coisa dessas como normal, minha mãe. Logo eu, que procuro sempre levar uma vida normal, com respeito a tudo e a todos!— disse Arthur em tom de desabafo.— Eu que nem mesmo sou tão vaidoso nem arrogante, além do que tenho minha namorada e estou apaixonado por ela.

— É, meu filho, a vida tem dessas coisas que não podem ser explicadas, pelo menos não de forma tão fácil. Reconheço o que disse de si mesmo e coloco fé nas suas palavras. Mas isso não deixa de ser uma coisa boa, que só tem a conspirar a seu favor. Não se dê por vencido. Hoje temos bastante tecnologia para suplantar quase todos os problemas de saúde. Não atoa, tenho ouvido de médicos a dizerem que para todos os males se encontra tratamento hoje em dia. Tenha fé em Deus e tudo terminará bem. — comentou a mãe em tom consolador.

Dali a alguns dias, em que Arthur se encontrava em Huston para o tratamento, veio-lhe a notícia de que ele precisaria passar por uma cirurgia. Na verdade, um procedimento que atuaria na base do problema, numa glândula situada no interior do pescoço, próxima à tireoide; e faria reparos complementares nas deformações faciais. A notícia foi acompanhada de muitas recomendações sobre dietas e medicamentos para antes do procedimento, além de um aviso de que a operação seria de muita complexidade. Na manhã em que Arthur foi deixado pelos pais naquela fria e clara sala de procedimentos cirúrgicos a apreensão foi a tônica do momento.

 Durante toda a manhã os parentes mais próximos aguardaram com grande aperto no coração por uma notícia que os deixassem mais tranquilo. O relógio marcava 13:00 hs, quando veio a enfermeira chefe avisar aos parentes que seria melhor que fossem para o hotel descansar, uma vez que não haveria notícias antes das 16:00 hs, em sinal de que a cirurgia ainda iria demorar.  Depois disso alguns realmente foram descansar, ficando somente D. Isis e os mais próximos.

Lá pelas 19:oo hs, finalmente veio a notícia de que a enfermeira chefe queria falar com os parentes, o que deixou a todos que aguardavam num clima de muita excitação. A porta foi aberta e a profissional começou a falar em inglês:

— I’m sorry, but we… — somente estas palavras foram suficientes para que D. Isis desabasse ao chão num desmaio, mas a enfermeira continuou sua fala, — … we couldn’t bring back all your beauty, but your health can!,— que traduzido significa — Sinto muito, mas nós não conseguimos trazer de volta toda sua beleza, mas a saúde sim! — Foi um momento de muita emoção, em que todos os presentes respiraram aliviados e agradecidos. Depois disso trataram de acordar D. Isis, que caiu em prantos de tanta alegria em saber que seu filho finalmente estava bem e ficaria saudável outra vez. Dali a uma semana Arthur teve alta e pode retornar à vida normal. Agora, ao lado da namorada Amanda, não cansava de relembrar os momentos de aperto que passou. Ele estava agora muito feliz por ter tido de volta sua saúde. Na face, ficaram algumas pequenas cicatrizes que, ao serem vistas ao espelho, fazem Arthur pensar que não representam nada perto do perigo que passou durante aquela enfermidade que quase lhe tirou a vida.

Antônio Mangas

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